sábado, 8 de março de 2008

O Estoicismo de Marco Aurélio no filme "Gladiador"


O filme "Gladiador" foi uma tentativa de Hollywood em reavivar um estilo de cinema deixado de lado por anos, os Épicos. Para gerar uma estória coerente e cativante, os roteiristas se valem da máxima expressada ao Padre Merin (de "O Exorcista"), em que a mentira mistura com a verdade é de difícil detecção. Assim, o enredo da obra vislumbrada mistura fatos históricos com fictícios, e tudo chega apenas a um lugar: a criação de um novo clássico, um novo épico.
Ponto de enfoque aqui intentado com relação à película é como tratam o Estoicismo. Com isto, o desenvolvimento adotado será apresentar as idéias gerais desta escola de pensamento, como os ideais estóicos se encontram nas Meditações (obra escrita pelo Imperador Marco Aurélio), e a maneira pela qual a estrutura cinematográfica analisada traz a figura de Marco Aurélio, bem como seus ensinamentos.
Estoicismo foi uma escola filosófica da Era Helenística (inaugurada por Alexandre, O Grande) recepcionada pela tradição romana que pregava ser o logos (razão) só alcançado pelo pensamento claro e descompromissado. O modo de conseguir um raciocínio claro era pelo auto-controle, apenas pela contenção das vontades, pela superação dos sentimentos destrutivos, poderia ser encontrada a verdade e a felicidade. Destaque, além do controle emocional, é a ênfase dada a vida nas cidades (vida em comunidade, o cosmopolitismo), em que as pessoas deviam viver em irmandade, reconhecer os outros como irmãos independente de origem (nisto incluindo até os escravos). Ícone conceitual também presente nesta linha de pensamento é o determinismo, em que a vontade do sujeito deve se adequar ao mundo em que vive e sua função na mecânica da realidade.
As idéias contidas nas Meditações de Marco Aurélio surgiram com linha mestras para o próprio escritor usar como ferramentas na aproximação dos objetivos estóicos. A questão central da obra reflete em muito os intentos da escola a que pertence por focar no controle emocional e futilidade do materialismo. Frase que coroa os objetivos é: "Nunca considere alguma coisa como boa se trai a verdade ou te faz perder o senso de vergonha ou te faz mostrar ódio, suspeita, má vontade ou hipocrisia ou ainda um desejo de coisas belamente feitas por detrás das portas".
Já no contexto de "Gladiador" o Imperador Marco Aurélio se mostra muito menos estóico do que o real governante-pensador romano. Um dos elementos que corroboram tal afirmativa é a preocupação em como será lembrado depois de sua morte, antítese à escola a que pertence, pois nela consta o determinismo, em que cada indivíduo está no mundo para um propósito e não se deve preocupar com isto (deve até achar a felicidade com esta condição). O momento em que é externado o ideal estóico se encontra no diálogo do pai Marco Aurélio com o filho Cômodo sobre a lista de virtudes, lista em que figuram valores como Sabedoria, Justiça, Fortitude e Temperança. Ressalta-se Temperança, o controle dos impulsos, real alicerce do estoicismo.
De todo o exposto, o estoicismo é apenas um traço sutil na estória de "Gladiador" porque há a preocupação constante com a imagem a ser deixada para o futuro, bem como a vontade superando os deveres. O personagem que mais mostra as cores da escola estóica é Maximus, depois das provações contidas no filme, quando, finalmente, este aceita o trabalho que lhe é proposto no início (entregar o poder romano imperial novamente para o povo/Senado), seu dever, sua função no mundo, e com o contentamento pela execução da tarefa.

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