sexta-feira, 7 de março de 2008

Ensaio sobre a Origem da Filosofia

A Filosofia tal como é conhecida hoje recebeu seus contornos a mais de 2500 anos. O que aconteceu com esta no decorrer das eras foi a perda de ramos seus, tal evento resultou que para estes ramos, uma vez independentes, constituíssem um veículo de estudo autônomo. Exemplo disso são ciências na configuração atual como a psicologia e a biologia. Mesmo perdendo focos de reflexão seus para a formação de outros estudos, a Filosofia mantém comunicação com focos característicos, leia-se Lógica, Ética, Estética, Metafísica e Filosofia Política.
Mesmo exposto as mudanças de realidade que a Filosofia experimentou, ainda falta uma pergunta: "Como surgiu a Filosofia?" Tentar responder esta pergunta é o objeto do presente texto. Tentativa ousada, mas possível frente a diversos estudos já feitos. O real desafio fica com a adoção de uma forma que não seja enfadonha e extensa.
Antes de se pensar e fazer Filosofia, como o homem questionava o mundo? Como o indivíduo tentava explicar a sua existência e os diversos fenômenos que aconteciam a sua volta? Estas duas perguntas são o devido ponto de início para se buscar a origem da Filosofia.
Aqueles mais questionadores, na ânsia de buscar respostas para perguntas existenciais, realizaram ferramentas para suprir lacunas de argumentos, e estas foram a explicação pela via divina. Ou seja, quando a resposta esbarrava em uma barreira de elucidação, a época, intransponível, o interlocutor fundamentava em um Deus. Assim, deuses eram criados pela imaginação dos homens a todo o momentos. Com isto, o cada rio era um Deus, o vento era um Deus, o tempo era um Deus... Fenômenos meteorológicos...deuses também, e não só na cultura grega, mas em várias culturas antigas, por exemplo, o Zeus grego (Deus que manipulava raios e trovões) possuía uma contraparte nórdica em Thor, o Deus grego Hélios tem similar com Rá egípcio.
Em um dado momento a justificação por deuses se tornou insuficiente. Deste instante histórico, o ser humano tenta um elemento novo para a equação da resposta para a realidade. O novo alicerce é a razão.
Todavia a razão não rompe com a cultura vigente, ela não afasta a crença nos deuses, apenas aumenta a distância da atuação divina. Assim não cabe mais dizer que a folha caiu porque um Deus quis, porém foi a ação do vento na folha que resultou a queda, o Deus apenas criou o vento.
O primeiro passo filosófico foi dado pelo conjunto de pensadores chamados pela tradição acadêmica de Pré-socráticos. Tal rótulo agrupa pessoas e idéias muito distintas, e pode parecer equivocado a primeira vista, mas tem a sua razão de ser frente ao marco filosófico que caracterizou a figura de Sócrates. Expoentes dos Pré-socráticos são Pitágoras, Tales de Mileto, Anaxímenes, Anaximandro, Parmênides, Heráclito, Zenão, Empédocles, Anaxágoras, Leucipo e Demócrito. Mesmo na classificação Pré-socráticos outras divisões são permitidas.
Pitágoras (expoente da escola pitagórica, subclasse das escolas italianas) iniciou os questionamentos pelo estudo da harmonia contida na matemática e na música, e com isto estendeu o raciocínio da harmonia para a explicação de mundo/realidade.
A outra escola italiana é a eleática. Nesta o ápice se dá com Parmênides, e tem a tradição seguida por Zenão (que acresce a teoria da unidade do ser do anterior com a multiplicidade de argumentos/paradoxos). Parmênides justificava o mundo pela atribuição das seguintes características ao ser: unicidade, imutabilidade e eternidade.
A filosofia feita na Jônia possuía vertentes que englobavam reflexões ímpares como as de Tales e de Heráclito.
Tales de Mileto buscou as respostas na natureza (physis), e na busca do princípio natural da origem chega ao elemento natural água como fonte das demais coisas. Tal conclusão se justificava pela adaptabilidade da água aos diversos vasilhames.
Heráclito surgiu como contraponto a Parmênides. Sua construção era no sentido de que tudo muda, o mundo, as coisas, a realidade são como o ser. E para este o ser é plural, mutável e corrompível (antônimo de eterno). O resgate de Nietzsche das idéias de Heráclito nos mostram as metáforas do fogo e do arco/lira. O fogo em Heráclito era a qüintessência das coisas, pois reflete o dinamismo, o mesmo fogo que destrói será aquele que gerará ou manterá a vida pelo calor. Já a questão do arco e da lira é a harmonia entre extremos, como os opostos são necessários para o funcionamento da realidade (o tencionamento como gerador de energia).
As escolas da pluralidade recepciona os ideais de Empédocles, Anaxágoras e os atomistas (Leucipo e Demócrito). Empédocles tentava conciliar os estudos de Heráclito e Parmênides e tal o fez pela utilização das raízes. Já Anaxágoras avança pela utilização dos argumentos do Nous (mente, espírito, que possui os atributos ilimitado e autônomo) e das sementes, em que estas formam a mistura inicial e aquele atua nesta ordenando-as para formar a realidade sentida pelas pessoas. Já os atomistas diziam haver substâncias mínimas e indivisíveis que ao se relacionar constituem o mundo, a superfície da percepção muda pelo movimento atômica, mas a base da existência é fixa.
Após este grupo de pensadores um homem foi marco em História da Filosofia: Sócrates. Por seus embates com os sofistas (homens que calcavam a análise pelo filtro do homem), pontos especiais viraram tradição em Filosofia. São a questão da alma e das idéias originais. A alma socrática não é aquela que advém de uma doutrina religiosa, porém é a alma questionadora, aquela capaz de perguntar e entender a resposta recebida (isto difere o homem dos demais animais). Já as idéias originais são revisitadas por seu pupilo Platão.
Platão intenta a justificação do mundo pela divisão entre Mundo das Idéias (formas) e Realidade. O conhecimento só pode avir do exame das idéias (fixas, imutáveis, eternas e perfeitas), pois a realidade é imperfeita. E com a criação da Academia, Platão, além de estabelecer um veículo para disseminar seus pensamentos, também estabelece um local para o fazer filosófico. Se há a possibilidade de fixar um momento para a origem da atividade filosófica como a conhecemos a fundação da Academia (cerca de 387 a.C.) é este.
A tradição ainda traz Aristóteles como continuador deste fazer filosófico com o seu Liceu. Entretanto Aristóteles diverge de Platão, pois para o primeiro a busca deve se dar no sensível para se chegar a regra geral e com isto se chegar ao bem, verdade.
Os romanos mantiveram a tradição grega e passaram o bastão para a próxima era (Idade Média), e seus representantes: os intelectuais. E só com este desenrolar histórico a atualidade pode experimentar os questionamentos e o saber filosófico desenvolvido.

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