sábado, 8 de março de 2008

Édipo Rei

A proposta de analisar a peça surgiu com uma encenação em classe. Não cabe aqui criticar a produção dos colegas, pois é muito fácil ser arquiteto de obra pronta (a crítica pela crítica), díficil é oferecer o corpo às pedras. Então o presente serve para resumir a questão levantada pelo autor da mesma (Sófocles) e cotejar com a Filosofia. Neste último ponto, o vislumbrar a tragédia com relação aos pensamentos filosóficos, vale ressaltar que tem de ser levado em conta a época em que foi feita e os ideais vigentes na sua gênese (senão se pode incorrer em imputar construções que não haviam à época).
Édipo Rei é uma obra teatral de gênero tragédia, foi escrita por Sófocles e a primeira apresentação ocorreu próxima do ano de 430 a.C., sua idealização foi para performances a céu aberto em locais da Polis, em que com o advento da imprensa (muitos séculos depois) ganha a forma impressa muito difundida atualmente.
O desenvolvimento da estória segue o liame da tentativa de solucionar o evento da morte do rei que precedia Édipo no trono (Láio). Todavia toda a trama já estava delimitada antes do ínicio dos eventos abordados no trabalho de Sófocles. Começa a apresentação da trama com Édipo já rei, e a sua cidade de Tebas é atacada por uma praga. Édipo que já havia derrotado a Esfinge com seu intelecto crê que pode solucionar o problema. O sábio Tirésia aconselha a não tentar, mas a vaidade fala mais alto. Com a busca pela resposta oráculos são consultados e velhas previsões são trazidas a tona. Na solução das previsões que redundam no caos da cidade, o rei descobre seu real passado. Com as conclusões, a mãe/esposa de Édipo se mata, o terror engloba o herói e este crendo indigno da morte se cega.
Determinismo é um ponto que já permeava a cultura grega desde o surgimento das figuras das Parcas (seres que no nascimento tecem a linha da vida de cada pessoa, ali contendo os feitos e desgraças da existência desta). Este aspecto se encontra na obra, pois mesmo com a fuga de Édipo de Corinto para Tebas, este realiza o seu destino, todos os passos tomados só servem para concretizar a previsão. O problema que surge do determinismo é a questão sobre a existência de livre arbítrio (liberdade), mesmo em toda a cadeia de eventos há ainda um esboço de escolha para as personagens. Isto é verificado no tocante a Laio por ser o oráculo a ele dirigido constante dos seguintes termos: "Se Laio tiver um filho, o filho o matará e desposará a própria mãe". A opção, a escolha, foi dada a Laio, se este escolher ter um filho e se o tiver a tragédia recai sobre sua casa. Há o condicional, há a parcela de possibilidade, remota, mas há.
A metáfora dos olhos. Aqui se vê outro ponto da mentalidade grega. Os olhos são o veículo do conhecimento do mundo. Mesmo com filósofos como os Pré-socráticos os olhos são o meio para tentar desvendar o mundo, ou seja, ligados ao conhecimento, à sabedoria. Ao se cegar Édipo, que antes se considerava o solucionador de charadas, admite nada saber sobre si mesmo, assim indigno da vista, a via do conhecimento.
Por fim, as lições da peça no tocante à Filosofia se encontram, além do determinismo e das implicações da visão, voltadas ao conflito de interesses de personagens e disputa de poder (elementos de Filosofia Política). Entretanto, não são elementos tratados há fundo, pois a segmentação da Filosofia Política como ramo da Filosofia só se dá séculos mais tarde, só há o famoso fim pedagógico das peças gregas, em que os valores morais desejáveis são ressaltados e os indesejáveis apontados e criticados.

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