sexta-feira, 4 de abril de 2008

Outro ângulo para JC.


Tal como a postagem referente ao filme “A Paixão de Cristo”, de Mel Gibson, a história do filme em questão (“A Última Tentação de Cristo”, de Martin Scorsese) é bem conhecida pelos cristãos, ou pelo menos deveria ser para aqueles que assim se dizem. Porém com um detalhe o roteiro não é fiel à narrativa bíblica.
A estória de “A Última Tentação de Cristo” objetivou, e isto fica bem claro no início do filme dado o aviso que é apresentado, ser uma adaptação do livro de Nikos Kazantzakis. O livro e o filme, ambos possuidores do mesmo título, não seguem o evangelho. Assim, invalida a afirmativa do conhecimento da estória feita no primeiro parágrafo. Disto, tem-se que a linha da trama não segue o cânone do Novo Testamento, pelo contrário traz à baila a liberdade de Jesus.
Em breves linhas o filme apresenta Jesus, inicialmente, como o carpinteiro responsável pela convecção de cruzes para a execução dos mandados de um território ocupado por Roma. Tal trabalho mina o espírito do personagem, e faz duvidar das vozes que ouve (e atribui a Deus). Desprezado pelos conterrâneos, só o militante Judas acredita nele e, com isto, rejeita a missão dada pela célula revoltosa de assassinar o traidor que ajuda a causa romana. Com a peregrinação, a conversa com João Batista e as tentações de Satanás, o homem se aproxima do ideal de Cristo. Com a dúvida no coração, Jesus busca suporte na figura de Judas. Todavia, a trama segue para o desfecho esperado, a ceia, as acusações e a pena na cruz. A reviravolta se dá com a imagem que salva Jesus da morte e revela a idéia oposta, ele não é messias, cristo e filho de Deus. Deste ponto, Jesus casa com Maria Madalena até a morte dessa e segue os rumos da vida com a filha de Lázaro. A paz deste só é perturbada com a aparição de Paulo, que conclui ser a estória e ideal de Jesus Cristo maior que o homem real. Perto da morte a imagem que o salva mostra ser Satã, a crise se instala em sua psique, Jesus em meio aos caos volta ao lugar onde era para ter morrido e pede a Deus que os desígnio sejam cumpridos e ele morra para a humanidade viver... e Jesus volta para o momento da crucificação e cumpre o esperado.
Os olhos filosóficos incidentes na película revelam conceitos como dever, sofrimento e verdade.
No quesito dever se remete aos ideais filosóficos da era helênica, onde se espera que o bom homem se anule frente à sua missão de vida. Porém este é melhor abrigado na questão sofrimento e verdade, que aparecem no conflito narrado por Arthur Schoppenhauer em vontade e desejo. A vontade de viver desse filósofo é a força que impulsiona o home, mas esta é permeada por paixões. E preso ao desejo o homem vive em um mundo de objetos, logo, restando atormentado por isso, mas é o bastante para fazer o ser humano perseverar.
Todo o mencionado no parágrafo anterior é sentido pelo Jesus da produção cinematográfica, até que frente à decepção do esvaziamento de sua vida (cedeu a tentação do diabo), ele supera o modelo de Schoppenhauer e elege o propósito estóico do dever (“E está cumprido”, como afirma o Cristo retornado à cruz).

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