quarta-feira, 30 de abril de 2008
O belo como símbolo da moral (ótica kantiana).
Paranóia no 'Nam
Capitão Willard, personagem de Martin Sheen em Apocalypse Now.
quinta-feira, 24 de abril de 2008
Porteiro SM e outros valores morais relacionados.
sexta-feira, 18 de abril de 2008
Vai lutar contra o sistema, assim, lá longe!
O filme a ser comentado neste espaço é:
Título: A Vida de David Gale (The Life of David Gale).
País de origem: Estados Unidos da América e Alemanha.
Ano: 2003.
Direção: Alan Parker.
Elenco: Kevin Spacey, Kate Winslet, Laura Linney, Gabriel Mann.
Duração: 130 minutos.
Gênero: Drama.
Distribuição: Universal Pictures.
A sinopse do filme, contida no verso da caixa do DVD, expõe: David Gale (Kevin Spacey) é um brilhante professor de filosofia. Tem livros publicados, é respeitado, extremamente inteligente... mas está no corredor da morte, aguardando sua execução. Ele é acusado de ter estuprado e assassinado uma colega de trabalho e ex-aluna. Às vésperas de sua morte, David pede a presença da repórter Bitsey Bloom (Kate Winslet) para que lhe conceda uma entrevista na qual contaria toda a verdade sobre o caso. Uma história inacreditável, envolvendo alcoolismo, a mulher que o abandonou , a melhor amiga (Laura Linney), que está morrendo de leucemia, um advogado incompetente e um governador que adoraria eletrocutá-lo. Quanto mais Bitsey ouve, mais fica estarrecida. Mas com apenas quatro dias para a execução, talvez seja tarde demais para inocentá-lo.
Convém iniciar o presente comentário com uma explicação: Por que neste filme escolhi usar o resumo comercial do filme, ao invés de usar minhas próprias palavras? Respondo: Por ter este filme um arco de estória fenomenal, e ao narrar o filme poderia incorrer na revelação de um evento que só competiria à trama conduzir o espectador. Assim, deixo o breve relato do filme para a empresa distribuidora e passo diretamente às questões filosóficas.
O tema da vontade. Vontade em Filosofia é abordado desde Platão, mas neste ela deve ceder ao ideal maior, e deve ser sempre contida pela moderação. Com Aristóteles, é apenas reflexo da matéria que anseia movimento. Descartes fala que é a agitação da alma, e Kant realiza no sentido de conservação das coisas. E Hegel afirma ser desejo/vontade um reflexo da auto-consciência. Mas a melhor forma de expor desejo é como o personagem do título, em uma palestra ministrada, conta: "Você não quer a coisa, mas sim você quer o que fantasia a respeito da coisa." Em Lacan é o desejo constante, pois uma vez obtido o objeto de desejo, gera com que a pessoa substitua por um novo desejo.
Já o ponto verdade, é ainda mais controvertida que a questão vontade. Verdade em termos gerais é a sinceridade, a boa-fé e honestidade. Seria a conformidade entre o relatado e o ocorrido. Os elementos que influem na delimitação da verdade são a subjetividade, o objetivo do discurso, ou, ainda, a própria concepção de mundo se atingida por um grau de relatividade.
Como conclusão se pode ver que vontade em dados momentos podem ocultar a verdade. Pois a verdade está ligada à fala, e esta pode acabar como escrava da vontade. E tal fato no filme é revelado por um jogo de palavras:
"Eu sei quando morrerei. Mas não posso dizer porque." Aqui a palavra poder pode significar duas coisas, o não poder por desconhecer a verdade ou não poder por não ter a vontade de revelá-la. Para saber qual era o caso de David Gale, fica a recomendação de assistir a esta brilhante narrativa.
Dever define a pessoa?
O filósofo que serve de base conceitual é Immanuel Kant, em especial na postura adotada na publicação Metafísica dos Costumes. Este pensador é ponto de síntese da Filosofia Moderna, bem como pode ser considerado o maior ponto do pensar no período final do Iluminismo. Nas suas construções há a delimitação e revisão dos conceitos necessário para a sua edificação de teses em Epistemologia (Teoria do Conhecimento), Metafísica e Ética.
Conforme a seqüência exposta, inicia-se pela natureza do homem. Neste prisma o homem é visto como agente moral livre, ou seja, a busca do conhecimento e as ações conseqüentes são frutos de uma postura ativa do ser humano. Com suas faculdades, emprego da mente, pelo seu sistema de síntese calcado em regras, o exterior é captado. Todavia há o detalhe de expor que o homem deve ser visto como cidadão do mundo. E para tanto Kant afirma que seres racionais, por natureza fins em si mesmos, devem viver por máximas que restrinjam o relativo e o objetivo arbitrário. Logo, o homem, e suas decisões, está no centro do mundo cognitivo e do moral. Pois o mundo é percebido pela experiência e conceitos apriorísticos, então, a experiência válida depende de condições necessárias (pré-existentes) quanto ao pretendido.
Deveres da razão, no autor alicerce do estudado, é um conceito ético que está determinado pelas leis, experimentadas e corroboradas pelo intuído (a idéia anteriormente contida nesse indivíduo), possuídas pelo ser humano inserido no mundo. Mas tudo isso redunda em um afunilamento da idéia de dever da razão, no sentido de o enfoque recair sobre os deveres de virtude.
Como conclusão se pode ter que a dignidade na conduta, o ato virtuoso, é medido pela forma como a vontade remete o indivíduo à execução conforme. Se as paixões incidem na vontade, a conduta resta manchada. A maneira de agir livre e desimpedida ausente da incidência de qualquer paixão e desapegada de posterior reconhecimento redunda em virtude. Só dessa forma o ser racional finito que é o homem atinge a sabedoria prática, ou seja, este obtém para si um sistema de valoração, em si um dever, e este dever é o cultivo da virtude (a ética) configurando meio de se aperfeiçoar.
Sabedoria por Dirty Harry.
sexta-feira, 11 de abril de 2008
Proposta de Material Didático
INTRODUÇÃO
- CONCEITOS
Ética – do grego ethos, que designa modo de ser e caráter. Permite que os indivíduos se relacionem de uma maneira harmoniosa com a natureza e a sociedade, quer dizer, o modo como o ser se relaciona com estes meios através da moral[C1] .
Ética psicanalítica - denomina-se como uma exigência de sustentação do desejo, ou seja, a partir do fato de que o desejo impere sobre a razão, esta ética torna-se uma ética trágica. Lacan descreveria como na tragédia grega de Sófocles, “Antígona[C2] ”. A vontade de saciar o desejo é enaltecida na psicanálise, uma coisa que é perdida desde sempre, o que mobiliza o indivíduo a estar sempre em busca de algo, alguma coisa que está perdida desde sempre (desde o nascimento, e que talvez a encontremos novamente na morte). Posto isto, funda-se a ética psicanalítica que estaria sempre preocupada com a busca de algo perdido.
- OS PENSADORES
Sigmund Freud (1856 – 1939)
Biografia:
Psiquiatra e neurologista de origem austríaca e checa. Pelas teorias sobre a mente inconsciente, o mecanismo mental protetivo da repressão e sua redefinição de desejo sexual é tido como o pai da psicanálise.
Até hoje é uma figura incompreendida em alguns meios científicos pela sua utilização dos sonhos como fonte valiosa para tentar obter os elementos contidos no subconsciente, bem como o próprio corpo de suas obras é objeto de debate.
Vontade e a ética:
Freud ao tratar a vontade a divide em duas ordens, a vontade de vida e a vontade de morte. A vontade de vida, libido, é a energia produtiva no ser humano. Já a vontade de morte, thanatos, é a necessidade humana de retornar ao estado de paz, calma. O primeiro leva o indivíduo a evitar desprazeres extremos que põem em risco a vida. Por outro lado este, último, leva a prazeres extremos como forma de levar à morte. No tocante ao exposto, a ética seria algo em que se emprega uma constante busca, e esta busca é pela COISA perdida desde sempre. Porém, talvez, o único lugar que se encontre a mesma seja na morte.
Jacques-Marie-Émile Lacan (1901 – 1981)
Biografia:
Psicanalista francês, formado em medicina com especialização em psiquiatria. Sua contribuição maior se deu pelo avanço nas teses de Freud. As três ordens (o imaginário, o simbólico e o real) figuram como os aspectos teóricos que marcaram seu pensamento pós-estruturalista.
Vontade e a ética:
A vontade lacaniana em muito segue a estrutura proposta por Freud, centra a construção nesta. A psicanálise é o veículo capaz de revelar a verdade por trás da vontade, e assim possibilitar eventos como a cura. Detalhe particular é a diferenciação feita por Lacan de vontade e necessidade. A necessidade é um motor biológico, instinto, que cria a demanda do corpo por certa coisa. Quando o instinto é atendido, porém sempre insatisfeito, o que permanece é a vontade. Vontade não é uma relação com uma coisa, mas sim com a falta dela.
Como para este psicanálise é o método para se chegar ao seu próprio ser, assim há a elaboração da idéia de sujeito. Disto, vontade cotejada com ética se tem que a psicanálise como uma experiência ética, estava baseada em uma concepção ética (desejo).
QUESTÕES E REFLETINDO...
Qual a diferença notável entre a ética e a ética da psicanálise?
Através da distinção entre ética e a moral?
Como é possível fundamentar a ética no desejo?
Com base na função psicanalítica da ética, como no contexto em que vivemos, esta poderia ser aplicada? Quais fatores contribuem para esta noção?
Qual ao ponto de fundamentação da ética na psicanálise?
Para você, o que seria a busca pela “coisa que foi perdida”, segundo Lacan?
Como é possível a psicanálise como experiência ética?
Segundo as teorias psicanalíticas, o desejo é algo insaciável e que está em constante busca da satisfação. O desejo é realmente algo insaciável, em todos os sentidos?
Porque muitos filósofos lançam o desejo como algo não ético, e para psicanálise o desejo é uma experiência ética?
Com base na psicanálise de Freud e Lacan, elabore um conceito original sobre a ética psicanalítica.
MATERIAL DE APOIO.
LIVROS
MILLER, Jacques-Alain. Percurso de Lacan, uma introdução. Jorge Zahar Editor.
JORGE, Marco A. Coutinho. e FERREIRA, Nadiá P. Lacan,O Grande Freudiano. Jorge Zahar Editor.
FREUD, Sigmund. Interpretação dos Sonhos. Editora Imago.
JORGE, Marco A. Coutinho. e FERREIRA, Nadiá P. Freud – Criador da Psicanálise. Jorge Zahar Editor
FILMES
CÃES DE ALUGUEL, de Quentim Trantino.
PLATOON, de Oliver Stone.
O CLUBE DO IMPERADOR, de Michael Hoffman.
[C1]mos (ou no plural mores) (costumes, de onde se derivou a palavra moral.)..
[C2]Antígona é uma figura da mitologia grega, filha de Édipo e Jocasta.
A versão clássica do mito sobre a Antígona é descrita na obra Antígona do dramaturgo grego Sófocles, um dos mais importantes escritores de tragédia. Esta obra é a terceira parte da Trilogia Tebana, os quais também fazem parte Édipo Rei e Édipo em Colono. (In:Wikipédia)
Frase religiosa
Sarg. Hartmann, personagem de R. Lee Ermey em Nascido para Matar.
sexta-feira, 4 de abril de 2008
Religião + Lei = Kant falando
Outro ângulo para JC.
A estória de “A Última Tentação de Cristo” objetivou, e isto fica bem claro no início do filme dado o aviso que é apresentado, ser uma adaptação do livro de Nikos Kazantzakis. O livro e o filme, ambos possuidores do mesmo título, não seguem o evangelho. Assim, invalida a afirmativa do conhecimento da estória feita no primeiro parágrafo. Disto, tem-se que a linha da trama não segue o cânone do Novo Testamento, pelo contrário traz à baila a liberdade de Jesus.
Em breves linhas o filme apresenta Jesus, inicialmente, como o carpinteiro responsável pela convecção de cruzes para a execução dos mandados de um território ocupado por Roma. Tal trabalho mina o espírito do personagem, e faz duvidar das vozes que ouve (e atribui a Deus). Desprezado pelos conterrâneos, só o militante Judas acredita nele e, com isto, rejeita a missão dada pela célula revoltosa de assassinar o traidor que ajuda a causa romana. Com a peregrinação, a conversa com João Batista e as tentações de Satanás, o homem se aproxima do ideal de Cristo. Com a dúvida no coração, Jesus busca suporte na figura de Judas. Todavia, a trama segue para o desfecho esperado, a ceia, as acusações e a pena na cruz. A reviravolta se dá com a imagem que salva Jesus da morte e revela a idéia oposta, ele não é messias, cristo e filho de Deus. Deste ponto, Jesus casa com Maria Madalena até a morte dessa e segue os rumos da vida com a filha de Lázaro. A paz deste só é perturbada com a aparição de Paulo, que conclui ser a estória e ideal de Jesus Cristo maior que o homem real. Perto da morte a imagem que o salva mostra ser Satã, a crise se instala em sua psique, Jesus em meio aos caos volta ao lugar onde era para ter morrido e pede a Deus que os desígnio sejam cumpridos e ele morra para a humanidade viver... e Jesus volta para o momento da crucificação e cumpre o esperado.
Os olhos filosóficos incidentes na película revelam conceitos como dever, sofrimento e verdade.
No quesito dever se remete aos ideais filosóficos da era helênica, onde se espera que o bom homem se anule frente à sua missão de vida. Porém este é melhor abrigado na questão sofrimento e verdade, que aparecem no conflito narrado por Arthur Schoppenhauer em vontade e desejo. A vontade de viver desse filósofo é a força que impulsiona o home, mas esta é permeada por paixões. E preso ao desejo o homem vive em um mundo de objetos, logo, restando atormentado por isso, mas é o bastante para fazer o ser humano perseverar.
Todo o mencionado no parágrafo anterior é sentido pelo Jesus da produção cinematográfica, até que frente à decepção do esvaziamento de sua vida (cedeu a tentação do diabo), ele supera o modelo de Schoppenhauer e elege o propósito estóico do dever (“E está cumprido”, como afirma o Cristo retornado à cruz).
JC no Cinema: Mensagem POP
A estória de “A Paixão de Cristo” teve o intento, conforme afirmado pelo diretor e co-roteirista Mel Gibson, de ser o mais fiel ao espírito do evangelho possível. Acrescentando elementos esclarecidos pela História (e os métodos de pesquisa arqueológica moderna). Disto, tem-se que a linha da trama segue o cânone do Novo Testamento, em especial o livro de João, no período compreendido pelo momento posterior à Última Ceia até a Ressurreição.
Em breves linhas o filme apresenta o homem Jesus sendo tentado por uma forma andrógina e humanóide que representa Satã. Dos percalços surge a força e determinação de Jesus, o que resulta em um confronto com Caifás (e daí a acusação de blasfêmia pela pronuncia do nome divino). Da série de problema de jurisdição ente hebreus (representados por Herodes) e romanos (sob a direção de Pôncio Pilatos). Ao fim, pela pressão do clero judaico cabe aos romanos a sentença e execução da pena de Jesus. Em uma última manobra, por influência de sua esposa, Pilatos tenta uma saída com o perdão do feriado (o povo poderá libertar Jesus ou outro indiciado – Barrabás). O povo corrompido pelo dinheiro de Caifás liberta Barrabás e Jesus é crucificado. Mas o caminho da crucificação (Via Cruxis, em latim), bem como a prática da tortura em momento anterior – o inquérito de apuração de crime, é o marcante para a audiência. Marcante pela violência e as cenas de tortura explícita. Porém o filme termina com a mensagem da superação da carne, a ressurreição.
Agora a pergunta é: Como isso se relaciona com Filosofia? Em várias formas. Pois há a aceitação do dever característica epicurista e o existencialismo cristão (existência justificada pelo divino) de Kierkegaard. Existe também, e especialmente, a dualidade platônica que posteriormente é recebida pelos medievais da escola Patrística. Em que o Sumo Bem (Deus) é a idéia perfeita e o carnal é transitório, imperfeito e que cabe a cada pessoa almejar a Deus. Mas tanto Jesus como o filme fazem algo incomum no mundo da Filosofia, eles trazem uma resposta de como atingir os objetivos da humanidade, e esta resposta é o amor.