quarta-feira, 30 de abril de 2008

O belo como símbolo da moral (ótica kantiana).

O tema foi proposto pelo mestrando em Filosofia Luciano, aluno orientado pelo professor Daniel Omar Perez, na Pontifícia Universidade Católica do Paraná.
O belo pode ser símbolo da moral, ou é a expressão da superficialidade no meio social? Será que belo é apenas relacionado com prazer visual, e é ausente de qualquer conteúdo (moral/intelectual)?
Mas para responder às questões levantadas deve se perguntar a linha de pensamento adotada. Com o estabelecimento de uma linha de raciocínio, pode adotar conceitos necessários para se aproximar de uma solução. A pesquisa se pauta nos ideais kantianos.
Como Kant entende a beleza? Para este pensador a teoria estética está calcada no juízo. O juízo por sua fez pode ser anterior (a priori) ou posterior (a posteriori) a um estímulo.
Ao questionar a resposta que algo considerado belo implica em uma pessoa, nota-se que ao julgar os gostos, as reações são frutos de emoções, e emoções peculiares a cada indivíduo. Assim, o juízo da beleza é posterior (juízo a posteriori) ao ato gerador do sentimento de belo. O ponto seguinte a ser trazido a tona é como este juízo fica em relação a interferências (é desimpedido?).
O veículo capaz de avaliar os juízos, e os dados apreendidos, está na vontade.
Tal qual o exame do belo, se faz a valoração da moral. A moral, e sua existência verdadeira, está em como resta configurada a vontade. E então, vontade em Kant é a delimitação de quanto as paixões incidem na atitude, a vontade egoística mancha a conduta. A maneira de agir livre e desimpedida ausente da incidência de qualquer paixão e desapegada de posterior reconhecimento redunda em virtude. O ser racional finito, que é o homem, só atinge a sabedoria prática, ou seja, só obtém para si um sistema de valoração, se age sem paixão, com a vontade de agir daquela forma exclusivamente.
Todavia, o filósofo alemão expõe que a beleza em si não é exclusiva à obras de arte ou fenômenos da natureza. Mas sim está relacionado com o livre-arbítrio, com o uso desimpedido (ou ato voluntário não viciado pelas paixões) das faculdades, ou seja, o prazer estético está na certeza de apreciar o imaginado e entendido sem interferências. Nota seja feita, de que este prazer, esta contemplação do belo não ocorre na esfera da consciência, não é um julgamento do cognitivo mesmo com os contornos de racionalidade no vislumbre de algo tido como dotado de beleza.
Pelo exposto, beleza é um julgamento moral. Logo, meio legítimo da moral.

Paranóia no 'Nam

"Cada minuto que passo neste quarto, fico mais fraco. E cada minuto que Charlie se abaixa no mato ele fica mais forte."
Capitão Willard, personagem de Martin Sheen em Apocalypse Now.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Sabedoria por Dirty Harry II

"Vá em frente, e faça o meu dia!"

Porteiro SM e outros valores morais relacionados.

Outra análise de filme. A obra em questão é:
O Porteiro da Noite (Il portiere di notte, no original). Itália, 1974.
Direção de Liliana Cavani, no elenco Dirk Bogarde, Charlotte Rampling, Philippe Leroy-Beaulieu, Gabriele Ferzetti e Isa Miranda.
O ponto a ser vislumbrado no presente ensaio são os traços mentais que Lacan apontaria, e ainda o aspecto filosófico contido na obra sob a luz de Immanuel Kant.
Porém, antes de atacar a questão mostrada anteriormente, convém contar o filme em si.
Tudo começa treze (13) anos após a Segunda Guerra Mundial, em Viena, mais precisamente em um hotel na mencionada cidade austríaca. No momento em que Lucia Atherton, violinista em uma filarmônica americana, e seu marido, maestro do tido conjunto de sobro-cordas-percussão, chegam ao hotel, esta tem a impressão de conhecer o porteiro.
O porteiro por sua vez, durante a guerra, foi oficial da SS. Para esconder seu passado, trabalha compulsivamente e se reúne com seus colegas nazistas. Em dado momento do filme, revela que trabalha no turno da noite por ter vergonha da luz do dia, ela revela para o seu consciente o passado que quer ocultar.
Lucia tinha sido prisioneira em campo de concentração do 3º Reich, mas acreditava ter superado tudo com o transcurso do tempo, e sucesso na vida (seja o profissional, como o pessoal). Todavia, a impressão de já conhecer o porteiro perturba a personagem em questão. A noite ela volta a ter pesadelos com o período que experimentou treze (13) anos antes. E, pela má sensação, passa a evitar o porteiro quando os serviços desse são requisitados por seu marido.
Mas Maximilian Theo Aldorfer, o porteiro, Max para simplificar, percebe que há algo estranho quanto àquela mulher. Ele percebe e relata suas conclusões à sua confidente, a condessa. A condessa e amiga no círculo nazista recebe favores de Max, este arranja companheiros noturnos para essa, assim tendo sua reputação estimada no hotel e sua administração.
Neste passo, há o primeiro obstáculo para o clímax da película, o confronto entre Max e Lucia. Max pede que um colega o substitua em um evento para que possa ir ao quarto de Lucia. Esta se esquiva, mas é inevitável, ao se verem cara à cara a audiência espera ódio, entretanto o que se vê é uma paixão que ultrapassa os limites do comum, tanto que a crítica condenou como transgressão sexual.
Max é um sádico e um masoquista, já Lucia por perseguida no campo de concentração e protegida por Max claramente apresenta traços da Síndrome de Estocolmo. Chegando a realizar as fantasias do amado.
Eles retomam o que interromperam com os desenlaces da 2ª guerra mundial. E é aí que surge o próximo obstáculo da trama. Os colegas do regime anterior criaram um grupo de apoio, com alegadas bases psicológicas de curarem os que serviram naquele, e darem um seqüência de vida de pura paz. A questão é que eles "arquivam" as testemunhas, em outras palavras as eliminam. Ao ser confrontado pelos amigos, ele nega ter encontrado alguém que o conhecia antes de ser porteiro. As tentativas de Max falham, tudo é descoberto, e é exigida a presença da moça.
Como estratégia ele a acorrenta no apartamento, para que não a levem, e assim trabalhar tranquilo. Inútil, um representante chega até ela, e expõe o sadismo e a necessidade do testemunho de Lucia, todavia, ao perceber que a moça não percebe a realidade pelo quadro mental que apresenta uma solução é proposta, morte aos dois.
Para não possibilitar a solução, Max e Lucia se trancam no apartamento do primeiro. Os nazistas cortam o suprimento de alimentos para forçar a saída. O racionamento leva à fome. E uma única saída é vislumbrada, confronto.
O casal vai à rua, ela com um vestido que lembra momentos pretéritos e ele com seu uniforme da SS. Ao chegarem a uma ponte são mortos a tiros. Fim.
Onde se vê Lacan? Está no masoquismo e modo de pensar sádico de Max. Tal como em Freud, excessos sexuais estão mais ligados à pulsão de morte (tanatos) do que à pulsão de vida (eros). E assim se dá por haver a rejeição do objeto de desejo, espelhando a própria existência do agente. Tudo gira pela idéia da punição aplicada, o objeto não é mais simplesmente sexual, o aspecto sexual fica em um plano inferior enquanto o punir toma o centro das atenções.
Kant está na vontade. E só nela, pois a moral está totalmente entregue a vontade, logo corrompida, e então, não é moral. Relembrando, vontade em Kant é a delimitação de quanto as paixões incidem na atitude, a vontade egoística mancha a conduta. A maneira de agir livre e desimpedida ausente da incidência de qualquer paixão e desapegada de posterior reconhecimento redunda em virtude. O ser racional finito, que é o homem, só atinge a sabedoria prática, ou seja, só obtém para si um sistema de valoração, em si um dever, se age sem paixão, com a vontade de agir daquela forma exclusivamente. Este dever mencionado é o cultivo da virtude (a ética), meio de se aperfeiçoar. No filme há vontade, mas permeada de paixões, assim não há virtude e a configuração do dever é negada.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Vai lutar contra o sistema, assim, lá longe!

"Sócrates era feio, Platão era gordo e Aristóteles era um almofadinha." David Gale bêbado lecionando para transeuntes no meio da rua, no filme A Vida de David Gale.


O filme a ser comentado neste espaço é:

Título: A Vida de David Gale (The Life of David Gale).
País de origem: Estados Unidos da América e Alemanha.
Ano: 2003.
Direção: Alan Parker.
Elenco: Kevin Spacey, Kate Winslet, Laura Linney, Gabriel Mann.
Duração: 130 minutos.
Gênero: Drama.
Distribuição: Universal Pictures.

A sinopse do filme, contida no verso da caixa do DVD, expõe: David Gale (Kevin Spacey) é um brilhante professor de filosofia. Tem livros publicados, é respeitado, extremamente inteligente... mas está no corredor da morte, aguardando sua execução. Ele é acusado de ter estuprado e assassinado uma colega de trabalho e ex-aluna. Às vésperas de sua morte, David pede a presença da repórter Bitsey Bloom (Kate Winslet) para que lhe conceda uma entrevista na qual contaria toda a verdade sobre o caso. Uma história inacreditável, envolvendo alcoolismo, a mulher que o abandonou , a melhor amiga (Laura Linney), que está morrendo de leucemia, um advogado incompetente e um governador que adoraria eletrocutá-lo. Quanto mais Bitsey ouve, mais fica estarrecida. Mas com apenas quatro dias para a execução, talvez seja tarde demais para inocentá-lo.

Convém iniciar o presente comentário com uma explicação: Por que neste filme escolhi usar o resumo comercial do filme, ao invés de usar minhas próprias palavras? Respondo: Por ter este filme um arco de estória fenomenal, e ao narrar o filme poderia incorrer na revelação de um evento que só competiria à trama conduzir o espectador. Assim, deixo o breve relato do filme para a empresa distribuidora e passo diretamente às questões filosóficas.
O tema da vontade. Vontade em Filosofia é abordado desde Platão, mas neste ela deve ceder ao ideal maior, e deve ser sempre contida pela moderação. Com Aristóteles, é apenas reflexo da matéria que anseia movimento. Descartes fala que é a agitação da alma, e Kant realiza no sentido de conservação das coisas. E Hegel afirma ser desejo/vontade um reflexo da auto-consciência. Mas a melhor forma de expor desejo é como o personagem do título, em uma palestra ministrada, conta: "Você não quer a coisa, mas sim você quer o que fantasia a respeito da coisa." Em Lacan é o desejo constante, pois uma vez obtido o objeto de desejo, gera com que a pessoa substitua por um novo desejo.
Já o ponto verdade, é ainda mais controvertida que a questão vontade. Verdade em termos gerais é a sinceridade, a boa-fé e honestidade. Seria a conformidade entre o relatado e o ocorrido. Os elementos que influem na delimitação da verdade são a subjetividade, o objetivo do discurso, ou, ainda, a própria concepção de mundo se atingida por um grau de relatividade.
Como conclusão se pode ver que vontade em dados momentos podem ocultar a verdade. Pois a verdade está ligada à fala, e esta pode acabar como escrava da vontade. E tal fato no filme é revelado por um jogo de palavras:

"Eu sei quando morrerei. Mas não posso dizer porque." Aqui a palavra poder pode significar duas coisas, o não poder por desconhecer a verdade ou não poder por não ter a vontade de revelá-la. Para saber qual era o caso de David Gale, fica a recomendação de assistir a esta brilhante narrativa.

Dever define a pessoa?

Como já ocorreu neste blog, a presente postagem é determinada pelo professor e o objetivo dela é comentar a pesquisa de uma aluna do mestrado da PUCPR (nota seja feita de que a autora da temática - a professora Sônia - tratada é orientada pelo professor responsável do requisito Blog).
O filósofo que serve de base conceitual é Immanuel Kant, em especial na postura adotada na publicação Metafísica dos Costumes. Este pensador é ponto de síntese da Filosofia Moderna, bem como pode ser considerado o maior ponto do pensar no período final do Iluminismo. Nas suas construções há a delimitação e revisão dos conceitos necessário para a sua edificação de teses em Epistemologia (Teoria do Conhecimento), Metafísica e Ética.
O tema da pesquisa citada no primeiro parágrafo é A Natureza Humana e os Fins como Deveres em Kant. A proposta do exame gravita pelos termos "natureza do homem", "deveres da razão" e "phýsis", pontos tidos como problemas fundamentais.
Conforme a seqüência exposta, inicia-se pela natureza do homem. Neste prisma o homem é visto como agente moral livre, ou seja, a busca do conhecimento e as ações conseqüentes são frutos de uma postura ativa do ser humano. Com suas faculdades, emprego da mente, pelo seu sistema de síntese calcado em regras, o exterior é captado. Todavia há o detalhe de expor que o homem deve ser visto como cidadão do mundo. E para tanto Kant afirma que seres racionais, por natureza fins em si mesmos, devem viver por máximas que restrinjam o relativo e o objetivo arbitrário. Logo, o homem, e suas decisões, está no centro do mundo cognitivo e do moral. Pois o mundo é percebido pela experiência e conceitos apriorísticos, então, a experiência válida depende de condições necessárias (pré-existentes) quanto ao pretendido.
Deveres da razão, no autor alicerce do estudado, é um conceito ético que está determinado pelas leis, experimentadas e corroboradas pelo intuído (a idéia anteriormente contida nesse indivíduo), possuídas pelo ser humano inserido no mundo. Mas tudo isso redunda em um afunilamento da idéia de dever da razão, no sentido de o enfoque recair sobre os deveres de virtude.
Já o termo "phýsis" é recepcionado por Kant, este é termo grego referente ao mundo, mas não um mundo físico por si só. E sim, o mundo físico, realidade, apreendido pelo sujeito que investiga e que muda. Em resumo, o mundo dinâmico e que se relaciona com as pessoas. Portanto, apenas um item no mecanismo que opera na capacidade de saber do homem.
Como conclusão se pode ter que a dignidade na conduta, o ato virtuoso, é medido pela forma como a vontade remete o indivíduo à execução conforme. Se as paixões incidem na vontade, a conduta resta manchada. A maneira de agir livre e desimpedida ausente da incidência de qualquer paixão e desapegada de posterior reconhecimento redunda em virtude. Só dessa forma o ser racional finito que é o homem atinge a sabedoria prática, ou seja, este obtém para si um sistema de valoração, em si um dever, e este dever é o cultivo da virtude (a ética) configurando meio de se aperfeiçoar.

Sabedoria por Dirty Harry.

"Eu sei o que você está pensando, vagabundo. Você está pensando: ele atirou seis vezes ou só cinco? Para falar a verdade, até eu esqueci com toda essa ação. Mas já que esta é uma .44 Magnum, a arma de mão mais poderosa do mundo, e que pode explodir sua cabeça de vez. Você tem que se perguntar: Eu estou com sorte? Então, está, vagabundo?"

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Proposta de Material Didático

A ÉTICA E A PSICANÁLISE - DE FREUD À LACAN.


INTRODUÇÃO

- CONCEITOS
Ética – do grego ethos, que designa modo de ser e caráter. Permite que os indivíduos se relacionem de uma maneira harmoniosa com a natureza e a sociedade, quer dizer, o modo como o ser se relaciona com estes meios através da moral[C1] .

Ética psicanalítica - denomina-se como uma exigência de sustentação do desejo, ou seja, a partir do fato de que o desejo impere sobre a razão, esta ética torna-se uma ética trágica. Lacan descreveria como na tragédia grega de Sófocles, “Antígona[C2] ”. A vontade de saciar o desejo é enaltecida na psicanálise, uma coisa que é perdida desde sempre, o que mobiliza o indivíduo a estar sempre em busca de algo, alguma coisa que está perdida desde sempre (desde o nascimento, e que talvez a encontremos novamente na morte). Posto isto, funda-se a ética psicanalítica que estaria sempre preocupada com a busca de algo perdido.


- OS PENSADORES
Sigmund Freud (1856 – 1939)
Biografia:
Psiquiatra e neurologista de origem austríaca e checa. Pelas teorias sobre a mente inconsciente, o mecanismo mental protetivo da repressão e sua redefinição de desejo sexual é tido como o pai da psicanálise.
Até hoje é uma figura incompreendida em alguns meios científicos pela sua utilização dos sonhos como fonte valiosa para tentar obter os elementos contidos no subconsciente, bem como o próprio corpo de suas obras é objeto de debate.
Vontade e a ética:
Freud ao tratar a vontade a divide em duas ordens, a vontade de vida e a vontade de morte. A vontade de vida, libido, é a energia produtiva no ser humano. Já a vontade de morte, thanatos, é a necessidade humana de retornar ao estado de paz, calma. O primeiro leva o indivíduo a evitar desprazeres extremos que põem em risco a vida. Por outro lado este, último, leva a prazeres extremos como forma de levar à morte. No tocante ao exposto, a ética seria algo em que se emprega uma constante busca, e esta busca é pela COISA perdida desde sempre. Porém, talvez, o único lugar que se encontre a mesma seja na morte.
Jacques-Marie-Émile Lacan (1901 – 1981)
Biografia:
Psicanalista francês, formado em medicina com especialização em psiquiatria. Sua contribuição maior se deu pelo avanço nas teses de Freud. As três ordens (o imaginário, o simbólico e o real) figuram como os aspectos teóricos que marcaram seu pensamento pós-estruturalista.
Vontade e a ética:
A vontade lacaniana em muito segue a estrutura proposta por Freud, centra a construção nesta. A psicanálise é o veículo capaz de revelar a verdade por trás da vontade, e assim possibilitar eventos como a cura. Detalhe particular é a diferenciação feita por Lacan de vontade e necessidade. A necessidade é um motor biológico, instinto, que cria a demanda do corpo por certa coisa. Quando o instinto é atendido, porém sempre insatisfeito, o que permanece é a vontade. Vontade não é uma relação com uma coisa, mas sim com a falta dela.
Como para este psicanálise é o método para se chegar ao seu próprio ser, assim há a elaboração da idéia de sujeito. Disto, vontade cotejada com ética se tem que a psicanálise como uma experiência ética, estava baseada em uma concepção ética (desejo).


QUESTÕES E REFLETINDO...

Qual a diferença notável entre a ética e a ética da psicanálise?
Através da distinção entre ética e a moral?
Como é possível fundamentar a ética no desejo?
Com base na função psicanalítica da ética, como no contexto em que vivemos, esta poderia ser aplicada? Quais fatores contribuem para esta noção?
Qual ao ponto de fundamentação da ética na psicanálise?
Para você, o que seria a busca pela “coisa que foi perdida”, segundo Lacan?
Como é possível a psicanálise como experiência ética?
Segundo as teorias psicanalíticas, o desejo é algo insaciável e que está em constante busca da satisfação. O desejo é realmente algo insaciável, em todos os sentidos?
Porque muitos filósofos lançam o desejo como algo não ético, e para psicanálise o desejo é uma experiência ética?
Com base na psicanálise de Freud e Lacan, elabore um conceito original sobre a ética psicanalítica.

MATERIAL DE APOIO.

LIVROS

MILLER, Jacques-Alain. Percurso de Lacan, uma introdução. Jorge Zahar Editor.
JORGE, Marco A. Coutinho. e FERREIRA, Nadiá P. Lacan,O Grande Freudiano. Jorge Zahar Editor.
FREUD, Sigmund. Interpretação dos Sonhos. Editora Imago.
JORGE, Marco A. Coutinho. e FERREIRA, Nadiá P. Freud – Criador da Psicanálise. Jorge Zahar Editor

FILMES

CÃES DE ALUGUEL, de Quentim Trantino.
PLATOON, de Oliver Stone.
O CLUBE DO IMPERADOR, de Michael Hoffman.

[C1]mos (ou no plural mores) (costumes, de onde se derivou a palavra moral.)..

[C2]Antígona é uma figura da mitologia grega, filha de Édipo e Jocasta.
A versão clássica do mito sobre a Antígona é descrita na obra Antígona do dramaturgo grego Sófocles, um dos mais importantes escritores de tragédia. Esta obra é a terceira parte da Trilogia Tebana, os quais também fazem parte Édipo Rei e Édipo em Colono. (In:Wikipédia)

Frase religiosa

"Quero esse banheiro tão sanitário que até a própria Virgem Maria sentiria orgulho de dar uma cagada nele."
Sarg. Hartmann, personagem de R. Lee Ermey em Nascido para Matar.

Psicanálise e Ética, não é Freud que explica

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Religião + Lei = Kant falando


A presente postagem é determinada pelo professor e o objetivo dela é comentar a pesquisa de um aluno da PUCPR (que fez PIBIC - Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica - orientado pelo professor inventor da necessidade do Blog).

Assim, a referência fica:

CONCEIÇÃO, Jorge Vanderlei Costa da. A Lei Moral e a Possibilidade de uma Religião Racional Derivada da Moral Pura. Curitiba: PUCPR, 2007.


Incidindo no tema, a questão ronda conceitos como lei moral, religião e natureza humana pelo prisma kantiano.
Em qualquer filósofo há a delimitação e revisão dos conceitos necessário para a sua edificação da tese visada.
Pela ordem, inicia-se pela natureza humana. Para este o homem está no centro do mundo cognitivo e do moral. Assim, atribui-se ao ser humano uma posição ativa na busca pelo conhecimento. O sujeito humano racional, pelo uso da mente, em um sistema de síntese baseado em regras, percebe espaço e tempo. Logo, o transcendental é produto da mente humana, e deste ponto advém a limitação epistemológica. Do exposto, moral, religião e bem estão no homem, nada de natureza ou Deus, mas sim homem. Assim, tem-se que o mundo é percebido pela experiência e conceitos apriorísticos, ou seja, a experiência válida depende de condições necessárias (pré-existentes) quanto ao objeto estudado.
Lei moral, é o imperativo categórico, a conduta esperada do ser humano. Porém esta se relaciona com a vontade. A vontade, por sua vez, também se relaciona com as paixões do sujeito. Nesse relacionamento lei moral - vontade - paixões, está o juízo de valor que se faz da conduta humana.
A dignidade na conduta, o ato virtuoso, é medido pela forma como a vontade remete o indivíduo à execução conforme. Se as paixões incidem na vontade, a conduta resta manchada. A maneira de agir livre e desimpedida ausente da incidência de qualquer paixão e desapegada de posterior reconhecimento redunda em virtude.
Aprofundando a temática a fé surge. Fé é a base da religião, logo ao delimitar esta o reflexo é lançado sobre a última. Religião é uma face da lei moral, no entanto Kant especifica formas de fé: fé eclesial e fé racional. Fé eclesial está nos estatutos, nos dogmas, a cultura (como a religião) nem sempre refletem o ideal da virtude. Já fé racional está na boa conduta, o homem agindo conforme a lei virtuosa inata em cada um (aquela que valida a experiência posterior).
Para se chegar ao resultado pretendido pelo acadêmico referido de início, de uma religião racional, e esta baseada em uma moral pura, deve-se sustentar a construção religiosa apenas na fé racional. E tal resta possível pela argumentação do autor de ser a noção apriorística do objeto, fruto da religião racional (moral), daí serem os deveres morais fins divinos. A estrutura da religião racional pela moral pura, reflete uma feição de Kant capaz de relacionar religião racional com a sua causa e seu fim último. E para poder delimitar o fim último cabe, em tema de religião, nomear (em temos por todos compreensíveis) como o sumo bem ou, ainda, Deus.

Fé vs Lei Moral: Será que Vontade Basta?

Outro ângulo para JC.


Tal como a postagem referente ao filme “A Paixão de Cristo”, de Mel Gibson, a história do filme em questão (“A Última Tentação de Cristo”, de Martin Scorsese) é bem conhecida pelos cristãos, ou pelo menos deveria ser para aqueles que assim se dizem. Porém com um detalhe o roteiro não é fiel à narrativa bíblica.
A estória de “A Última Tentação de Cristo” objetivou, e isto fica bem claro no início do filme dado o aviso que é apresentado, ser uma adaptação do livro de Nikos Kazantzakis. O livro e o filme, ambos possuidores do mesmo título, não seguem o evangelho. Assim, invalida a afirmativa do conhecimento da estória feita no primeiro parágrafo. Disto, tem-se que a linha da trama não segue o cânone do Novo Testamento, pelo contrário traz à baila a liberdade de Jesus.
Em breves linhas o filme apresenta Jesus, inicialmente, como o carpinteiro responsável pela convecção de cruzes para a execução dos mandados de um território ocupado por Roma. Tal trabalho mina o espírito do personagem, e faz duvidar das vozes que ouve (e atribui a Deus). Desprezado pelos conterrâneos, só o militante Judas acredita nele e, com isto, rejeita a missão dada pela célula revoltosa de assassinar o traidor que ajuda a causa romana. Com a peregrinação, a conversa com João Batista e as tentações de Satanás, o homem se aproxima do ideal de Cristo. Com a dúvida no coração, Jesus busca suporte na figura de Judas. Todavia, a trama segue para o desfecho esperado, a ceia, as acusações e a pena na cruz. A reviravolta se dá com a imagem que salva Jesus da morte e revela a idéia oposta, ele não é messias, cristo e filho de Deus. Deste ponto, Jesus casa com Maria Madalena até a morte dessa e segue os rumos da vida com a filha de Lázaro. A paz deste só é perturbada com a aparição de Paulo, que conclui ser a estória e ideal de Jesus Cristo maior que o homem real. Perto da morte a imagem que o salva mostra ser Satã, a crise se instala em sua psique, Jesus em meio aos caos volta ao lugar onde era para ter morrido e pede a Deus que os desígnio sejam cumpridos e ele morra para a humanidade viver... e Jesus volta para o momento da crucificação e cumpre o esperado.
Os olhos filosóficos incidentes na película revelam conceitos como dever, sofrimento e verdade.
No quesito dever se remete aos ideais filosóficos da era helênica, onde se espera que o bom homem se anule frente à sua missão de vida. Porém este é melhor abrigado na questão sofrimento e verdade, que aparecem no conflito narrado por Arthur Schoppenhauer em vontade e desejo. A vontade de viver desse filósofo é a força que impulsiona o home, mas esta é permeada por paixões. E preso ao desejo o homem vive em um mundo de objetos, logo, restando atormentado por isso, mas é o bastante para fazer o ser humano perseverar.
Todo o mencionado no parágrafo anterior é sentido pelo Jesus da produção cinematográfica, até que frente à decepção do esvaziamento de sua vida (cedeu a tentação do diabo), ele supera o modelo de Schoppenhauer e elege o propósito estóico do dever (“E está cumprido”, como afirma o Cristo retornado à cruz).

Frases da 7ª Arte

"Na guerra, a primeira baixa é a inocência".
Frase promocional do filme Platoon.

JC no Cinema: Mensagem POP



A história em questão é bem conhecida pelos cristãos, ou pelo menos deveria ser para aqueles que assim se dizem. Mais do que um meio de difundir uma fé, a narrativa bíblica, ao se abstrair o ponto voltado para a religião, é um veículo de ensinar valores morais ou informar um evento o qual o escritor considerou relevante para ser passado adiante, digno de ser transmitido para as próximas gerações.
A estória de “A Paixão de Cristo” teve o intento, conforme afirmado pelo diretor e co-roteirista Mel Gibson, de ser o mais fiel ao espírito do evangelho possível. Acrescentando elementos esclarecidos pela História (e os métodos de pesquisa arqueológica moderna). Disto, tem-se que a linha da trama segue o cânone do Novo Testamento, em especial o livro de João, no período compreendido pelo momento posterior à Última Ceia até a Ressurreição.
Em breves linhas o filme apresenta o homem Jesus sendo tentado por uma forma andrógina e humanóide que representa Satã. Dos percalços surge a força e determinação de Jesus, o que resulta em um confronto com Caifás (e daí a acusação de blasfêmia pela pronuncia do nome divino). Da série de problema de jurisdição ente hebreus (representados por Herodes) e romanos (sob a direção de Pôncio Pilatos). Ao fim, pela pressão do clero judaico cabe aos romanos a sentença e execução da pena de Jesus. Em uma última manobra, por influência de sua esposa, Pilatos tenta uma saída com o perdão do feriado (o povo poderá libertar Jesus ou outro indiciado – Barrabás). O povo corrompido pelo dinheiro de Caifás liberta Barrabás e Jesus é crucificado. Mas o caminho da crucificação (Via Cruxis, em latim), bem como a prática da tortura em momento anterior – o inquérito de apuração de crime, é o marcante para a audiência. Marcante pela violência e as cenas de tortura explícita. Porém o filme termina com a mensagem da superação da carne, a ressurreição.
Agora a pergunta é: Como isso se relaciona com Filosofia? Em várias formas. Pois há a aceitação do dever característica epicurista e o existencialismo cristão (existência justificada pelo divino) de Kierkegaard. Existe também, e especialmente, a dualidade platônica que posteriormente é recebida pelos medievais da escola Patrística. Em que o Sumo Bem (Deus) é a idéia perfeita e o carnal é transitório, imperfeito e que cabe a cada pessoa almejar a Deus. Mas tanto Jesus como o filme fazem algo incomum no mundo da Filosofia, eles trazem uma resposta de como atingir os objetivos da humanidade, e esta resposta é o amor.